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Como dois índios cearenses desbancaram Elvis Presley

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Por: Flávio Ramalho de Brito


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    Na segunda semana de novembro de 1963, chegava aos primeiros lugares do ranking das músicas mais tocadas e vendidas da revista norte-americana Billboard uma regravação de um antigo sucesso da orquestra de Jimmy Dorsey, o meloso fox mexicano Maria Elena (escrito assim mesmo), que suplantava músicas de Elvis Presley, Roy Orbinson e até Be my Baby, o maior hit das Ronettes. A gravação instrumental, um duo de violões que se chamava Los Índios Tabajaras, vendeu mais de um milhão e meio de discos nos Estados Unidos. Os Los Índios Tabajaras eram dois irmãos brasileiros,
Natalício e Antenor Moreira Lima. Mas, na realidade, esses foram os segundos nomes que eles tomaram. Seus verdadeiros nomes eram Muçaperê e Herundy.

    Muçaperê e Herundy viviam, na primeira metade do século passado, na serra do Ibiapaba, uma região fronteiriça entre o Ceará e o Piauí, numa isolada aldeia de índios Tabajara. Um dia, segundo Natalício em entrevista dada a Luis Nassif, encontraram próximo à aldeia um violão: “metemos a mão, fez aquele som, levamos um susto. O violão causou transtorno na tribo. Havia outro som que escutávamos às seis da tarde, e não sabíamos o que era. Nós, pequenos, pensávamos que era o violão. Era o sino de cidade a uns 60 quilômetros dali, o sino de Ibiapina”. Por volta de 1929, passou pela

aldeia uma tropa de militares chefiada pelo tenente Hidelbrando Moreira Lima, de quem os índios ficaram amigos. Quando os militares se foram, o pai de Natalício decidiu ir procurar, juntamente com os seus catorze filhos, o tenente Hidelbrando no Rio de Janeiro. Durante cerca de três anos caminharam pelos sertões, veredas e estradas até chegar ao seu destino: “Vimos violonista tocar e passávamos o dia inteiro escutando”.

     Ao chegarem ao Rio, em 1937, foram registrados como Antenor e Natalício, com o sobrenome  Moreira Lima do militar amigo. Começaram a tocar na rua: “nos jogavam algum dinheiro e a gente ia vivendo bem, mas dava muita vergonha porque éramos grandes, já”. Em 1945, fizeram um teste em uma rádio e foram contratados. Inicialmente, não diziam que eram índios “porque as pessoas tinham medo”. Depois, decidiram se anunciar como Índios Tabajaras, e, conforme Natalício, “o povo gostou”. Em 1957, começaram a excursionar por toda a América Latina, com muito sucesso.

Foram para o México: “Quando chegamos no México, escutei música clássica e me apaixonei. Depois que escutei aquele negócio do Chopin, no outro dia saí para comprar música. Um ano no México estudando dia e noite sozinho, sem professor, e aprendi a ler música”.

    Contratados pela gravadora RCA foram para os Estados Unidos, onde construíram a sua carreira fonográfica em 48 álbuns, a maioria disponível ainda hoje para venda, por exemplo, no sítio da amazon.com. Os Índios Tabajaras nas suas apresentações, modificavam as suas indumentárias conforme o tipo de músicas que executavam. O smoking era usado nos concertos de música erudita. As penas e colares e o peito desnudo, quando executavam sucessos do cancioneiro popular internacional, como Maria Elena. A importância da dupla era realçada por músicos como Chet Atkins e Don Gibson (autor do I Can’t Stop Lovin’You, de Ray Charles), que chegou a gravar com os Tabajaras, e, também, de gerações seguintes, como o guitarrista Carlos Santana. Antenor faleceu em 1997 e Natalício, em Nova York, em 2009.
    Se você quer comprovar o virtuosismo dos Índios Tabajaras, estão disponíveis no Youtube essas amostras:

                       Chopin – Fantasia Impromptu

                       Chopin – Valsa em Dó Sustenido

                         De Falla – Dança Ritual do Fogo

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