Por: Neves Couras;
Esta semana, fui convidada para uma reunião com pessoas que ainda não conhecia. O tema era de grande interesse para mim, e entre os participantes estavam algumas pessoas que, além de admirar profundamente, também considero amigas.
Desde que deixei de ser funcionária pública, só participei de eventos como palestrante, aluna apresentando meus artigos científicos, e fiz isso em grandes universidades do País e em outros países também.
O mundo acadêmico é meio cruel, mas faz parte do protocolo. Quem não estiver preparado, corre logo porque a coisa não é para brincadeira. Depois desse tempo, fiquei meio reclusa, apenas escrevendo e gravando minhas reflexões.
Sou meio matuta. Digo isso porque não dou importância a certas coisas que muita gente na nossa sociedade valoriza. Não uso roupas de marcas famosas, primeiro porque meu poder aquisitivo não permite, e segundo porque prefiro comprar de produtores locais, o que me dá muito mais alegria. Não ando por aí de sapato de couro mal acabado, chapéu de vaqueiro ou roupas de algodão cru, mas faço questão de usar bolsas feitas com uma das matérias-primas mais cobiçadas pelas grandes grifes: o couro de bode produzido em Cabaceiras, conhecido pela beleza dos modelos e pela perfeição no acabamento.
Há outras coisas que valorizo muito, além dos produtos da nossa terrinha. Entre elas, destaco a honestidade, a sinceridade, a humildade e a ética. Pois bem, estou descobrindo, dia após dia, que essas virtudes parecem ter saído de moda. Na reunião que mencionei, por exemplo, bastou eu tocar no tema da humanidade para causar um certo desconforto. Estranheza, até. Anos atrás, os Amigos Espirituais já haviam me alertado: ‘Haverá momentos na sua vida em que você se sentirá muito só.’ Na época, explicaram a razão dessa solidão, e confesso que, há algum tempo, venho percebendo isso se concretizar.
Descobri que como as roupas as bolsas e os sapatos, experiência, humanidade e respeito, caíram de moda. Mas já tinha sido avisada, então não tenho o que reclamar. Tenho sim, que ter pena de algumas pessoas que não reconhecem seu espaço, sua região, sua história e se colocam, talvez por serem jovens, acima das pessoas da minha faixa etária, que detêm um pouco mais de cultura e sabem valorizar o que é nosso.
Essa desvalorização, começa inclusive com nosso idioma. Nesses dias, as pessoas mais velhas que não sabem principalmente a língua inglesa, não poderão mais se comunicar. Não sei onde iremos parar, com esse mundo paralelo que está sendo criado. Existe uma divisão no momento, onde os jovens sabem de tecnologia e pouco de cultura, que desprezam o conhecimento dos mais velhos, como se toda nossa cultura tivesse se tornado obsoleta.
Coloquei meu pouco conhecimento em meu bornal, fiquei de boca calada, afinal, tenho dois ouvidos e uma boca, que é justamente para falar pouco e ouvir mais.
Lembrei-me de Ariano Suassuna: estamos divididos entre os que já foram a Disney e os que não foram. E se você não foi a Disney, assim como eu, é que prefiro conhecer nossa riqueza e nossa cultura, assim como nossa linda língua portuguesa, do que falar um monte palavras de outra língua para mostrar que sei das coisas.
Continuarei lendo os clássicos, nossos autores paraibanos, falando nossa linguagem verdadeira e cheia de conteúdo. Se o que eu aprendi e desenvolvi como profissional até hoje, puder ajudar ao nosso Estado, estou aqui. Não quero emprego nem trocar favor. Apenas servir se for necessário.
Continuo morando na roça por opção, acordando com o canto dos pássaros, sentido cheiro de terra molhada e pegando ao redor de casa, as minhas plantas medicinais para meus chás, colhendo a macaxeira para meus bolos e se for preciso ir a uma festa, vou procurar um traje produzido por aqui mesmo, assim com Dolce Gabana fez nos desfile da Alta Costura em 2025, valorizando o que é da terra.
Mas se vocês quiserem saber mais um pouquinho de liberdade, Natureza e vida com vigor, pode vir até aqui, conversaremos e tomaremos um bom café. Ver os sapos comerem junto aos gatos, os saguins com toda família andar na cerca do jardim, pode chegar. Mas sabendo que serei sempre autêntica, humana e cheia de atenção para com os amigos e para os que me procuram para um bom papo. Meu mundo de verdades e alegrias, não troco por nada.