O Dia do Trabalho está sendo Relativisado?

Por: João Vicente Machado Sobrinho;

O dia 1° de maio, é uma data consagrada ao trabalho em mais 80 países do mundo ocidental, inclusive no Brasil. É um dos poucos feriados nacionais do nosso calendário legitimado por Lei federal, não podendo, portanto, ser considerado como um ponto facultativo e nem tampouco ser relativizado e movido. A escolha do dia 1° de maio como data comemorativa do dia do trabalho, não foi uma decisão à toa nascida do acaso. Além disso, o 1° de maio não pode ser considerado como uma dádiva generosa, ou até mesmo como uma concessão altruísta de iniciativa dos empregadores, sejam eles de caráter público ou privados.

A simbologia da data teve origem no ano de 1886 quando um grupo de Sindicatos de operários saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos da América do Norte-USAN, para denunciar o modo draconiano de divisão do trabalho e da renda. Além disso, reivindicavam a redução da jornada de trabalho, de 14 horas diárias que lhes era imposta pelos patrões. O conflito foi sangrento e se disseminou pela Europa custando à classe trabalhadora, sangue, suor e lágrimas.


A 1ª revolução industrial que acontecera em 1760 na Inglaterra, se por um lado teve o viés de modernizar o processo fabril, por outro lado, provocou um grande impacto no mundo do trabalho causando desemprego em grande escala. A reação instantânea dos trabalhadores foi de destruir as máquinas por entender que elas eram a causa de tudo. Somente depois, é que viriam acordar para entender que aquela era uma luta de classes declarada, na qual a classe trabalhadora que era o elo fraco da corrente e paradoxalmente a mais numerosa das classes, chegara a um estágio insuportável.

Através das suas lideranças e vanguardas de lutas, os trabalhadores devem ter lido, ou pelo menos ter escutado alguém falar, em alguns escritos proibidos de autoria um filósofo judeu alemão chamado Karl Marx, nascido em 1818. Esse jovem lançara o seu primeiro escrito em 1843 aos 25 anos, que ainda cursava a Universidade. Trata-se da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, onde ele ainda jovem e imberbe ousa contestar o idealismo dialético de autoria da grande referência filosófica da época que era Hegel. Num dos trechos desse documento ele disse:

“A história alemã, é verdade, orgulha-se de um desenvolvimento que nenhuma nação no firmamento histórico realizou antes dela ou chegará um dia a imitar. Tomamos parte nas restaurações das nações modernas, sem termos tomado parte nas suas revoluções. Fomos restaurados primeiramente porque outras nações ousaram fazer uma revolução e, em segundo lugar, porque outras nações sofreram contrarrevoluções; no primeiro caso, porque nossos senhores tiveram medo e, no segundo, porque nada temeram. Tendo nossos pastores à frente, encontramo-nos na sociedade da liberdade apenas no dia do seu sepultamento.”

Depois, em 1848, aos 30 anos de idade Marx lança uma bomba literária de 10 megatons que ainda hoje, 177 anos depois, é a grande dor de cabeça do liberalismo. O Manifesto Comunista, onde ele termina com uma reflexão e uma conclamação:

“O poder executivo do estado moderno não passa de um comitê para gerenciar os negócios comuns de toda burguesia. O comunismo não priva homem algum do poder de se apropriar de produtos da sociedade. Tudo que ele faz é privá-lo do poder de subjugar o trabalho de outros por meio de tal apropriação. As crises do nosso tempo se acirram e não há escolha que não passe pela união dos trabalhadores.”
“PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES UNI-VOS! “

No título desse artigo, fizemos menção à relativização e ao esvaziamento com que é tratado o dia consagrado ao trabalho. Essa é uma prática solerte e astuciosa que lentamente vem se alastrando. A orquestra de baile do consumo emite as notas vibrantes que serão ecoadas através dos instrumentos de difusão do consumismo e o seu eco é repercutido pela é a imprensa oficial.

Como sabemos o calendário gregoriano dividiu o ano em 12 meses que totalizam 365/366 dias. Um simples olhar para o calendário citado, nos revelará que, não há sequer um só dia disponível no calendário, para tantas homenagens e homenageados. Elas enaltecem fatos e personagens, muitos deles de somenos importância.
Há casos em que, por falta de datas, foi necessário combinar celebrações em um único dia, para cumprir tabela. Tomemos alguns exemplos:

Dia 8 de março: dia internacional da mulher, como também o dia do professor de educação física.
Dia 1° de maio: dia consagrado ao trabalho, como também o dia do professor de artes marciais;
Dia 12 de outubro: dia consagrado à Virgem de Aparecida, padroeira do Brasil, como também dia da criança, entre outros.
O comercio, que é a locomotiva condutora da sociedade de consumo, elabora suas peças publicitárias, sempre voltadas para as trocas de presentes, da forma mais piegas e sentimental possível de modo a tornar injustificável o “sacrilégio” de não presentear alguém.

Na encenação consumista, cria caricaturas em profusão para sugestionar os mais diversos consumidores. Dois exemplos bem claros são o Coelho da Pascoa com carretas e mais carretas de chocolates caros e a figura folclórica e “bondosa” de um personagem idoso do hemisfério Norte, onde o período de natal coincide com a neve. Trata-se do seletivo e discricionário Papai Noel.

As datas consagradas ao nascimento do Cristo e à sua passagem, perderam a guerra para o consumo. E haja presentes, mesmo que para tanto leve os incautos ao sacrifício e ao endividamento.

O dia do trabalho vem sendo atacado por essa erosão perniciosa de consumo e, se o trabalhador não chamar o feito à ordem, ele irá diluir a sua sacrossanta data nesse caldeirão consumista. Hoje em dia a data vem sendo gradualmente desprestigiada e chegamos ao cúmulo de um segmento do movimento sindical, para afastar a responsabilidade que lhe cabe pela omissão, chegar ao ponto de precisar fazer sorteio de prêmios para atrair o público obreiro.

O comércio, por sua vez, vem ganhando espaço ano a ano e, estando cada vez mais concentrado em centros comerciais luxuosos, verdadeiras catedrais do consumo, não admite por quaisquer hipóteses fechar as suas portas para celebrar o trabalho. Isso para os patrões é um sacrilégio. (“pois vão prejudicar as vendas”) dizem eles.

Se o dia 1° vier a coincidir com uma quinta feira e não podendo eles por Lei suprimir o feriado, recorrem aos favores da classe política para transferi-la, através do beneplácito de um ponto facultativo na sexta feira (como ocorreu esse ano).

Lemos um escrito de autoria de um agente de viagens, que circulou numa dessas redes sociais durante o 1° de maio, que pode ser considerado no mínimo risível. Dizia ele mais ou menos o seguinte, e sem nenhum escrúpulo:

“O dia do trabalho pode reservar um fim de semana inesquecível para você e para sua família no Resort Paraiso (nome fictício) a preços módicos. Você não pode perder essa oportunidade!”

Os órgãos representativos de classe, como é o caso dos Sindicatos de Trabalhadores e das Centrais Sindicais, têm uma certa responsabilidade por assumirem uma postura omissa, passiva e de certa forma inerte e indiferente a tudo isso quando permanecem silentes.

Seria o caso de bater o pé no chão e dizer NÃO! O 1° de maio é sagrado e nele ninguém toca. Mas para isso seria ter em mente a palavra de ordem para os trabalhadores e gritar alto e bom som:

Companheiros! o que os patrões querem é relativizar nossa data e esvaziá-la. O 1° de maio não é dia de lazer e sim de luta e por isso e em respeito aos que morreram para que tivéssemos vida, vamos ocupar as ruas com o nosso grito:

PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAISES UNÍV-VOS!

 

 

 

 

 

 

Referências:
Entenda as origens do 1º de maio | Agência Brasil;
Crítica da filosofia_miolo.indd;

Fotografias:
(5) ORIGEM DO FERIADO DO DIA 1 DE MAIO, DIA DO… – Tchizé Dos Santos | Facebook;
Libro Crítica de la Filosofia del Derecho de… en PDF y ePub – Elejandría;
Manifesto Comunista | Software | TechTudo;
Papai Noel Encontra O Coelhinho Da Páscoa Em Um Telhado Ilustração do Vetor – Ilustração de fundo, surpreendido: 99751668;
Manaíra e Mangabeira Shopping funcionam nesta quarta, 1º de maio – Maurílio Júnior;
Melhores praias de João Pessoa, litoral sul e norte da Paraíba;

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