Por: JOÃO VICENTE MACHADO
Na semana passada foram abertas as comportas de uma barragem de acumulação com capacidade de 28 milhões de metros cúbicos na cidade de Jati no estado do Ceará. Essa é uma das obras integrantes do chamado Eixo Norte, uma das portas de entrada das águas do Projeto de Integração de Águas do São Francisco-PISF, com o nordeste setentrional.
A primeira concepção do projeto foi alterada para promover um ajuste, em atenção a um pleito do governo do estado, que decidiu construir com recursos do próprio estado, o chamado Cinturão das Águas do Ceará, numa decisão do governador Camilo Santana que consideramos acertada.
A sua ideia é promover a distribuição do benefício de forma mais ampla, equitativa e racional possível e pela nova concepção adotada, a abrangência será maior e permitindo o atendimento a uma das regiões mais secas do estado do Ceará, chamada região dos Inhamuns. Dessa forma o sertanejo terá condições de convivência digna com o fenômeno secular das secas periódicas, tão natural quanto natural é a neve na Sibéria ou o gelo nas calotas polares.
O meu ex-professor da Escola Politécnica a nossa saudosa POLÍ, Dr. Manelito Dantas de saudosa memória, dizia com a convicção de pesquisador e especialista que enfrentou e conviveu muito bem com a seca:
“Ninguém tem condições de brigar com a natureza, mas de se adaptar para com ela conviver”.
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| Barragem de Jati no Ceará |
Mas voltemos à questão da Barragem citada, que faz parte do trecho 1 (Jati-Cariús) do Cinturão das Águas do Ceará, onde ocorreu a ruptura de uma tubulação de grosso calibre provocando o pânico na população ribeirinha, num raio de 2Km.
O fato despertou algumas dúvidas que precisam ser mais bem esclarecidas, tanto em relação a elaboração do projeto executivo, como em relação aos recursos disponíveis para conclusão da obra, além do plano de apoio e logística na execução.
Com relação ao projeto que não tive a oportunidade de ler, devem ter sido prescritas tubulações de aço com juntas soldáveis, haja vista o grande diâmetro e pressões exigidas para transportar a vazão máxima ao final do alcance de projeto.
Qual terá sido a espessura da chapa especificada para a parede do tubo em condições de suportar as pressões máximas, alem da prevenção dos efeitos dos transientes hidráulicos?
Como anda o fluxo de recursos para a execução da obra? Pelo que sabemos os recursos orçamentários tinham escasseado consideravelmente no governo Bolsonaro/Paulo Guedes, e a obra vinha sendo executada com emendas de bancada na Câmara dos Deputados. Seria oportuno que esse aspecto fosse considerado e esclarecido pela bancada da Paraíba, ou até as comissões especificas da Assembleia Legislativa.
Segundo declarações do Secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, os construtores haviam se mobilizado para providenciar um gerador, em virtude do blecaute na rede elétrica provocado pelo esguicho da água que jorrou do tubo rompido.
É estranho que uma obra daquele porte não conte com o suporte de um grupo gerador de grande capacidade, quando sabemos que hoje em dia até em festas de aniversário e casamento o gerador é obrigatório.
A barragem acumulava 82% da sua capacidade máxima e o que indagamos é se o enchimento do lago se deu de forma gradual com testes parciais como manda a boa prática de operação de barragens.
Não é nossa intenção acusar os técnicos que projetaram e os responsáveis pela execução da obra. Pelo contrário, devemos dizer a bem da verdade que todos aqueles que conheci e com os quais cheguei a conversar, eram profissionais muito qualificados. Todavia, como eles são apenas executores com pouco ou nenhum poder de mando nas grandes decisões, seria importante entrevistá-los.
Por fim, essa seria uma pauta oportuna para os parlamentares dos estados diretamente afetados pelo acidente e comprometidos com o sucesso de um projeto secularmente ansiado para redenção de um povo castigado pela irregularidade do clima, que um retirante nordestino teve a coragem de tirar do papel e executar.
FONTE DE PESQUISA: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/-
IMAGEM :G1-GLOBO 22/08/2020 – Darlene Barbosa /SVM
